O que é? Sob o comando da artista Ju Row Farr, do coletivo Blast Theory, um grupo criou um jogo no qual conversar com estranhos é o único meio para pontuar e conhecer as histórias que as pessoas locais têm para contar. Os jogadores devem puxar assunto com moradores do perímetro delimitado para a partida, descobrir qual a pergunta certa a fazer para cada um deles e seguir em frente.

Pergunte aos moradores do Bom Retiro

Com o objetivo de estabelecer conexões entre pessoas locais e os jogadores, um grupo de 18 pessoas criou o Branch, um jogo de perguntas e respostas que usa cartas para demarcar as etapas da partida e a pontuação de cada participante. Primeiro é estabelecido um perímetro, pontos de partida e de chegada. A recomendação é que a área não ultrapasse 500 metros em qualquer sentido tomando como referência os lugares de início e conclusão do jogo.

O mestre (responsável por comandar o jogo) deve selecionar as pessoas locais que participarão do jogo, ou seja, pessoas que estejam dispostas a dividir suas histórias e entregar a elas cartas com um símbolo de um lado e uma pergunta de outro. Também cabe a ele escolher os convidados , sendo que para cada convidado deve-se distribuir cinco cartas com instruções para encontrar cinco moradores diferentes e uma carta com as perguntas possíveis. Usar as perguntas originais ou determinar novas perguntas também é uma decisão que o mestre deve tomar.

Jogadora recebe carta de comerciante local no Bom Retiro (foto: divulgação)

Jogadora recebe carta de comerciante local no Bom Retiro (foto: divulgação)

As perguntas foram escolhidas de modo a provocar e fazer os envolvidos pensarem a respeito da resposta, estabelecendo uma conexão. “O que você acredita que precisa fazer nessa vida?”, “Você tem fama de quê?”, “Quando você se olha no espelho, o que você vê?”, são algumas das questões sugeridas pelo jogo. Os convidados que ajudaram a elaborar e saíram pelo Bom Retiro para realizar a primeira partida fizeram os primeiros testes entre si, o que levou ao veto de algumas perguntas. “Qual parte sua você mataria?” virou “Qual parte sua você nunca mataria?”, por exemplo.

Os jogadores convidados responderam a um chamado para trabalhar com a artista Ju Row Farr, membro fundador do Blast Theory, um coletivo que trabalha explorando a fronteira entre os jogos e realidade com desdobramentos em arte, performance  e mundos virtuais.  O chamado, por sua vez partiu do Mesa & Cadeira, que planejava elaborar um projeto sob a liderança de Row Farr usando o método de “aprender fazendo” que também deu origem ao Cidade Azul, outra iniciativa que já abordamos aqui.

Bárbara Soalheiro, fundadora do Mesa & Cadeira, foi apresentada ao trabalho da artista britânica por Bruno D’Ângelo, admirador do trabalho do Blast Theory que chegou a conhecer a sede do coletivo em Brighton. A decisão de fazer um jogo e usar cartas foi de Ju, que conduziu o processo de criação, mas, segundo Bárbara, o resultado foi a soma das habilidades de cada participante. Entre as pessoas locais foram escolhidos um comerciante, uma dona de boteco e um imigrante boliviano.

O Bom Retiro não é o Bom Retiro porque fica na zona tal da cidade de São Paulo, mas sim porque é lá que os bolivianos estão encontrando sua identidade, porque é ali que várias levas de imigrantes construíram a sua história e a do bairro.
Bruno d’Angelo

O lançamento do Branch se deu seis dias após a primeira reunião do grupo, no primeiro dia de dezembro. Tanto as cartas quanto as instruções do jogo se encontram disponíveis para download no site do projeto. Bruno D’Ângelo conta que o grupo que criou e testou o game espera receber relatos sobre a experiência dos organizadores de novas partidas, para poder aprender mais sobre o jogo. Ele diz que espera jogar uma próxima partida em breve e que dois dos lugares que estão sendo considerados para a experiência são o Largo da Batata e a escola Fernão Dias Paes, atualmente ocupada pelos alunos em protesto contra a reforma escolar proposta pelo governo estadual.