Moradores de Alepo querem – e precisam – ser ouvidos, e usaram todas as ferramentas possíveis para mostrar a realidade da cidade que foi destruída por ficar no meio da disputa entre grupos de oposição e o governo de Bashar al-Asad. Vídeos pipocaram nas redes sociais, com seus autores muitas vezes dizendo que aquela poderia ser sua última mensagem. Uma tragédia humanitária que atinge a cidade que, por séculos, foi referência em comércio, arquitetura histórica e gastronomia. E também na música.

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A cidade mais populosa da Síria (antes da guerra) é a capital da moachaha, estilo musical surgido no califado ibérico do Império Omíada. Alguns dos principais nomes da música árabe tradicional nasceram ou iniciaram suas carreiras em Alepo. Caso de Sabah Fakhri, um dos responsáveis pela recuperação da popularidade da moachaha no Oriente Médio.

Uma das interpretações mais famosas de Fakhri é sua versão de “Al-Rozana”, uma música que fala de sua Alepo. No caso, de como Alepo apareceu para salvar Beirute de uma grande fome no início do século passado. Quando a atual capital libanesa (na época, ainda uma cidade do Império Otomano) sofreu uma grande crise de alimentos, o governo enviou da Turquia um navio italiano chamado Rosanna com alimentos. A população saudou a chegada, mas se decepcionou ao ver que havia apenas maçãs e uvas, justamente os produtos que eles tinham em abundância. Eles foram salvos pelos mercadores de Alepo que compraram esse excedente da população de Beirute, que fez a música agradecendo os vizinhos por salvá-los da fome.

Ouça “Al-Rozana” na voz de Sabah Fakhri (letra em árabe e inglês)

Obs.: A história de Al-Rozana acabou servindo de inspiração para a criação de uma rádio independente síria, com sede em Paris, que visa levar ao mundo a palavra dos moradores do país, sem os filtros estabelecidos pelo governo.

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