Cingapura ostenta títulos como melhor “cidade para transporte infraestrutura” e a limitada extensão territorial não impede que a cidade/país atraia investidores em busca de liberdade econômica, quesito no qual concorre diretamente com Hong Kong. Por outro lado, o dinheiro flui volumoso apenas por caminhos já conhecidos – não há salário mínimo e o índice de Gini para desigualdade social é um dos mais altos entre os países em desenvolvimento.

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Em contraste com a economia, a expressão é algo controlado com rigor em Cingapura. No início dos anos 90, Christopher Lingle, um professor universitário, foi obrigado a deixar o local depois de publicar dois artigos críticos no International Herald Tribune. O país é ridicularizado pela posição paternalista que toma em relação os moradores, regulando o que eles podem ou não assistir na TV e ler. Uma lista de 257 publicações proibidas foi reduzida para 17 títulos em novembro de 2015.

Desde então, a pequena nação enriqueceu e ganhou um enorme prestígio. Cingapura tem se dedicado a maximizar seu crescimento em detrimento da participação social desde os anos 1970, quando a criação de uma infraestrutura econômica para tornar uma “cidade global” foi declarada como plano governamental que seria realizado com ou sem o apoio da população.

Devido sua estratégia de crescimento, Cingapura é frequentemente caracterizada por parecer mais uma empresa que uma cidade. Certas coisas são mais fáceis de se conseguir em um ambiente rigidamente controlado. Já falamos no Outra Cidade sobre o sistema de cobrança de pedágio urbano local, de 1975, que serviu de exemplo para Londres e Estocolmo. É uma boa política urbana, mas não é como se os cidadãos tivessem escolha (ou mesmo pudessem se manifestar livremente contra) a decisão de sua adoção.

A maioria dos imóveis residenciais foi construída pelo governo, sendo que mais de 80% dos habitantes locais moram nessas acomodações. É comum adultos viverem com os pais, uma vez que comprar apartamentos públicos é algo que a maioria dos solteiros não pode fazer, ou pelo menos não antes dos 35 anos. A compra de carros também é regulada pelo governo, que leiloa um número limitado de autorizações entre os interessados em ter seu próprio automóvel, com o objetivo de controlar a poluição do ar e os congestionamentos.

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Outro fator que permitiu com que Cingapura oferecesse iscas para atrair dinheiro de outros países é ser uma cidade-estado, que permitiu negociações diretas com nações, enquanto ela mesma não estava submetida a diversos níveis administrativos. Isso foi importante para que ela fosse uma das primeiras a desempenhar o papel de metrópole como ente responsável por suas próprias relações internacionais. Hoje, o intercâmbio de negócios entre prefeitos ou administração local e empresas de diferentes nacionalidades são comuns e vistos como apenas mais uma das funções da municipalidade.

Há, sim, um “modelo Cingapura” de desenvolvimento urbano, mas vale a pena pensar nas implicações para os moradores, considerando que a proporção de 10,7% de famílias milionárias – monstruosa para qualquer país que não se chame Mônaco -, mas se dá em um ambiente fortemente desigual e autoritário. Frequentemente cidades adotam algumas das políticas cingapurianas de crescimento econômico – às vezes dá certo, às vezes não. As condições perfeitas para reproduzir fielmente essa ideia de centro urbano dificilmente são encontradas em outros lugares (ainda bem), mas isso não parece impedir os municípios de tentar seguir alguns dos caminhos pavimentados pela pequena nação asiática.