por Leandro Beguoci e Ubiratan Leal

Era fácil compreender o sucesso dos Mamonas Assassinas no meio dos anos 90. Em uma época em que o Brasil vivia uma grande liberação da mídia, é enorme o apelo de uma banda que misturava rock, música popular e cantigas infantis com letras cheias de piadas juvenis. Crianças e adolescentes adoravam, os adultos nem tanto. Mas não era só isso que o quinteto de Guarulhos fazia. Em “Pelados em Santos”, ele trouxe a juventude da periferia para a frente do palco.

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A forma caricata como a letra retrata um sujeito que se atrapalha para dizer que ama sua garota pode e deve ser vista como preconceituosa pelos olhos de hoje. Mas, para um jovem da periferia dos anos 90, vivendo um universo em que o nível desse tipo de debate ainda era muito incipiente e restrito, a música era quase uma ação afirmativa. Ela não apenas falava da periferia, ela trazia elementos palpáveis: o sotaque com influência nordestina, a Brasília com rodas gaúchas, o status de produtos de marca como Reebok e Fiorucci, usar o inglês como forma de glamourizar a conversa. Para a classe média, isso tudo parece bobagem. Para quem era de Guarulhos, Caieiras, Osasco, ABC, São Miguel Paulista, Pirituba, era o dia a dia dele.

Isso ajudou a fazer “Pelados em Santos” ter tanto sucesso entre crianças e adolescentes dessas cidades e bairros. Até então, o rock/pop nacional trazia uma visão muito dura e engajada dessas regiões, ou falava dela com o olhar e linguajar da classe média do centro expandido (como “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, do Ultraje a Rigor). Os Mamonas Assassinas procuraram brincar com isso, em um movimento muito típico daquele período do Brasil. Talvez só uma banda que não veio de um bairro da classe média da capital conseguiria ter tanto sucesso com essa fórmula.

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