O que é? A avenida Nove de Julho costumava ter 20 faixas de rolamento e ser um monumento em homenagem aos carros cortando a capital argentina. Alguns chegaram a considera-la a via mais ampla do mundo. Esse cenário foi mudando até alcançar uma distribuição mais proporcional de espaço entre diferentes modais, que agora também encontram lugar para circular por ali.

Um cartão postal redesenhado

A avenida Nove Julho homenageia a independência da Argentina, que se deu nessa data no ano de 1816, e também já foi um símbolo equivocado da independência individual – uma ampla via destinada a abrigar intenso movimento movimento de carros e motos. Nela também foram construídos o obelisco que comemora a fundação da cidade e o Teatro Colón, a mais importante casa de ópera de Buenos Aires.

A avenida existe desde 1930 e seu alargamento foi concluído nos anos 80, mas demorou apenas sete meses para que ela se tornasse uma via mais acessível para os diferentes meios de locomoção. Foi o tempo que levou para quatro das 20 faixas de rolamento da Nove de Julho fossem cedidas para os ônibus e seus passageiros, que antes ficavam presos no meio do trânsito. O corredor de ônibus instalado na avenida possui extensão de 3,5 quilômetros e beneficiou aproximadamente 255 mil usuários do transporte público, permitindo que eles chegassem mais rápido aos seus destinos.

Boa parte de sua largura continuaria recebendo o tráfego de transporte individual, mas mesmo assim a implantação do sistema de BRT na avenida enfrentou oponentes, principalmente porque uma linha do metrô local percorre o mesmo trecho. Outra polêmica envolvendo o redesenho da Nove de Julho foi a remoção de 1.500 árvores e da área verde que as circundava. Alguns defendiam que o corredor deveria ocupar as laterais ou ainda que impossibilitaria conversões à esquerda.

 

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Uma pesquisa de satisfação apurou que 67% da população se sente mais segura ao caminhar pelas ruas laterais da avenida por causa da presença policial e aprimoramento da iluminação pública. No total, o sistema de BRT, chamado de Metrobus, possui 50,5 quilômetros de extensão e cinco corredores. A diretora de Mobilidade Sustentável de Buenos Aires, Paula Bisiau, disse recentemente em sua apresentação no seminário “Os desafios da mobilidade urbana”, que as mudanças recentes na capital argentina “não são soluções mágicas, todos temos que trabalhar e procurar uma resposta juntos, pensando em nossa cidade, nossa identidade e nas nossas pessoas”.

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Segundo a Secretaria de Transporte de Buenos Aires, o corredor da Nove de Julho resultou em uma redução de 40 minutos no tempo de viagem dos ônibus. Quem circula de carro também foi beneficiado, pois seus trajetos se tornaram 20% mais rápidos. O Metrobus tornou obsoleta a transferência dos passageiros para o metrô, uma vez que muitos dos que circulam por ali estão chegando ou partindo dos subúrbios.

A redistribuição do espaço na avenida, que começou em 2009 e foi concluída em 2013, se deu como parte de um plano maior que inclui a implantação de 100 blocos de vias exclusivas ou com prioridade para pedestres, algumas delas em ruas por onde os ônibus circulavam antes da implantação do Metrobus. Outra medida para tornar a cidade mais acessível por outros modais além do carro foi a construção de 155 quilômetros de ciclovias, o que colocou a cidade no ranking Copenhagenize 2015 de lugares amigáveis para bicicletas.

Antes de começar a transformação na Nove de Julho, uma primeira experiência foi feita em 2011 com a instalação de um corredor de ônibus fora da área central. Aproximadamente 90% das pessoas que se deslocam pela cidade todos os dias são pedestres, mas antes do projeto começar, 70% da área central era destinada para uso misto de carros, motos e ônibus. A atual configuração da via é mais próxima da proporção de usuários de cada modal, já que 65% das residências de Buenos Aires e cidades do entorno não contam com um automóvel e o sistema de ônibus transporta 8 milhões de usuários todos os dias.